18h. Sentado num dos bancos azuis da praça, observando o movimento com a cadela de estimação adotada Cacau, 6, que - por ter sofrido maus tratos é um animal de poucos amigos e dócil apenas com quem já tem intimidade - o atendente de carretos e mudanças, desempregado, Victor Silveira, 29, está acostumado a sair com sua pet pela Vila Matilde.

Ele lembra que sempre observa inúmeros moradores com saquinhos para recolher as fezes dos amigos de quatro patas.

“Vejo sempre as pessoas recolher as fezes dos cachorros, as que tem em casa, mas observo que por aqui têm muitos animais abandonados e o que acontece que não tem quem limpar por eles. Deveria ter uma controle melhor de zoonoses para que estes pets abandonados não ficassem na rua”, disse Silveira.

O rapaz ainda disse que não leva saquinho. “A minha cadela só faz em casa mesmo, no quintal, ela já está acostumada. Eu dou sorte porque ela só faz lá, mas nem todo mundo é assim”, afirmou o jovem.

No dia em que a Receita Federal declarou arrecadação recorde com impostos – Imposto de Renda e Contribuição Social em Lucros Líquidos, no mês de maio, R$ 165 bilhões, uma alta de 4,13% da inflação, na comparação do mesmo mês de 2021, totalizando R$ 908,5 bilhões, no período entre janeiro e maio de 2022.

Desde 1995 que não atingia este patamar, Silveira disse ser a favor da cobrança de multas nestes casos.

“Deve recolher melhor os tributos para colocar  mais  mão-de-obras nas ruas porque às vezes as fezes ficam uma semana na rua, suja mais, polui mais o meio ambiente, o que deixa a cidade mais fedida, aqui na praça tem um espaço legal para os cachorros, deveria ter um espaço adequado, até pelo conforto dos moradores ”, comentou.

Em alguns pontos do Tatuapé, bairro vizinho, já é possível ver mobílias para pet.

Na Vila Matilde, é possível encontrar  locais próprios para levar os cachorros para passear, o “Cãotinho do Amigo”, que tem até mesmo rampas e objetos de lazer, é um exemplo.

O cidadão pode encontrá-los ao lado do metrô Vila Matilde, nas margens do Córrego Rincão ou na Praça Luis Moutinho, ao lado da EMEF Presidente João Pinheiro.  

A Lei Municipal 13.131/2001 (clique aqui e leia toda a lei)  garante que bichos de estimação devem estar sempre bem cuidados e que, além de dar abrigo aos seus animais, todo proprietário legal deve mantê-los alimentados, vacinados, castrados e vermifugados, o que garante menos riscos à saúde humana e animal.

A proprietária de um pet shop, ´Mundo Pet´, na Rua Mirandinha, 567, Bárbara Macedo, 42, moradora entre a Vila Matilde e Penha há mais de 10 anos -, aponta que falta de educação são as palavras que definem um tipo de atitude como estas.

“Falta educação, porque se a pessoa tá saindo com seu pet, a pessoa deve ter consciência de recolher as fezes pois vai poluir o bairro e devemos pensar no coletivo”, disse a comerciante.

Na contramão, ela acredita que para educar estas pessoas novas medidas são importantes.  “As pessoas têm que se conscientizar destas práticas positivas e pensar mais nas outras pessoas, o cidadão deixa ali e vai embora, então é uma coisa que cada um deve ter numa consciência cotidiana", ressaltou. 

Na África do Sul, a Cidade do Cabo é um exemplo de limpeza urbana e também aplica multa caso lixo é jogado no chão.

Em Dublin, na Irlanda, quem é pego jogando lixo é multado. Lá, por ano - são gastos €31 milhões com a redução de lixo e entulho nas ruas. €3 mil à €150 euros pra quem for pego jogando lixo no chão. 

Em Miami, quem jogar lixo nas ruas a penalidade é de US$ 50 dólares e quem depositou o lixo na rua é autuado em casa, se for muito,  pode chegar a US$ 1 mil dólares e prisão. 

Em Paris, para que árvores e chão não sirvam de cinzeiros - quem jogar latas, embalagens e urinar nas ruas, paga-se €35.

 Na cidade dos ratos, nas lixeiras foram colocados cinzeiros para que os cigarros sejam apagados.

Bárbara, que tem uma cadela e diz que quando passeia com ela está acostumada a levar um saquinho, diz que as coisas em nosso país, muitas vezes funcionam somente nestes moldes.  

”No Brasil, acho que as coisas só funcionam a base de multa mesmo”, disse sorrindo a proprietária do negócio.  “É assim em nosso país, a pessoa pensa, se eu deixar o cocô na rua, vou tomar uma multa. Neste sentido uma cobrança com câmeras de vigilância e fiscais ajudaria nesta questão”, afirmou Macedo.

Na mesma rua do estabelecimento de Bárbara, um pouco mais a frente, uma jovem grávida de sete meses, sentada na porta de casa, chama a atenção.

Dona de dois cachorros machos, o Toddy e o Thor, a dona de casa Bruna Galvão, 32, diz que também sempre observa fezes de animais nas calçadas.

  “Acho este tipo de coisa falta de educação, falta de respeito, só que eu mesmo levo a sacolinha, porque é muito ruim está com as crianças na calçada e não pode passar, e ainda quando pisa suja todo o sapato. Se tivesse uma fiscalização em cima para a cobrança de multas seria ótimo”, lembrou Galvão.

Em funcionamento desde 1º de Outubro de 2018, o serviço de Disque Denúncia Animal (0800-600-6428) para defesa dos cães e gatos funciona em 39 municípios da Grande São Paulo.

Caso você ver pelo bairro algum animal sendo vítima de maus-tratos não pense duas vezes, entre em contato com este telefone.

 (Clique aqui e baixe em PDF o manual 'Quem ama cuida!' produzido pelo Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura de São Paulo).

Segundo o dicionário, popularmente o substantivo masculino cocô, significa fezes ; excremento.  No sentido figurado, aquilo cuja a qualidade é péssima e até mesmo sinônimo de muita bagunça.

Em Setembro de 2021, o Penha News fez uma matéria falando sobre a mesma questão cujo título era: ´Mesmo com lei que exige retirada de fezes de animais nas ruas, andar  pelas calçadas do bairro pode sujar os calçados´(clique aqui, e leia a matéria da época), além disto, veja uma atitude inovadora e comunitária que ajuda a solucionar este problema nos bairros.

Reportagem e Fotografia: Jordan De Sampa

*Reportagem Original veiculada na editoria PetNews em 23 de Junho de 2022 às 21h28

#PenhaNews #PetNews #EdiçãoDaNoite

#ReportagemEspecia