Etimologicamente, este é o conceito de arte. Comunicativa, é uma invenção humana antiga. Cinema, literatura, dança, escultura, literatura e arquitetura podem ser exemplos do caráter estético.

Segundo o Larrousse, é um conjunto de regras para bem realizar alguma coisa. Talento, habilidade, perícia para uma atividade, caráter, produção, expressão e concepção.Com o tempo, tornou-se um reflexo da essência humana, a arte cumpre uma importante função social que diz sobre aspectos culturais e históricos de determinada sociedade.

Refutando o filósofo grego Aristóteles, que pregava que a arte era uma imitação da realidade, na Idade Média, passou a ser observada como modelo de criação. Artes intelectuais (eruditas) ou mecânicas (populares) se acentuaram nas vertentes criadas nesta época, acentuando assim, artista e o artesão.

Rua Francisco Coimbra. Quinta-Feira (10). 10h. 

Na fachada, um portão discreto. Ao entrar, quadros e uma decoração bem feita que ilustram a casa da artista - que mais parece um ateliê - representam a força e a ousadia dos corajosos que fazem da arte, além de um ofício e uma terapia.

Há mais de 30 anos na função, Estela Francisco, 57, é artista plástica e tem a arte como prazer. Casada, e mãe de dois filhos, como outras mulheres do bairro, representa outro lado da comunidade: o da arte, tendo um ateliê dentro de um bairro-dormitório.

Tudo começou na adolescência. De férias em casa, foi à uma aula de pintura, e com isto despertou amor pela arte. Começou como ajudante e assim virou professora.  Com a atividade, por 10 anos, foi professora do Centro Cultural Aricanduva, e assim despertou para dar aulas em ateliê, na qual começou a gostar. “Arte pra mim é uma terapia”, lembrou.

Do período do Renascimento, século XIV à XVI, mestre da pintura, escultura, afresco e tinta óleo, Michelangelo di Lodovico Buonarroti (1475-1564 ), de Caprese, na região de Toscana, na Itália, é o artista que Estela mais gosta.Em sua obra, 'O Juízo Final”' conquistou uma forte amizade como o Papa João Paulo III

'A Pieta' (1500), que remete Jesus Cristo sendo segurado nos braços de Maria, atualmente localizada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, é a obra que mais gosta.

 Fã de desenho, artes visuais e graffiti, Estela gosta do artista Eduardo Kobra (1975), da periferia, que começou a carreira como street art e hoje é muralista, tem obras que simulam dimensões.

“Ele consegue expressar tudo o que detalha as referências da arte. 'Pixinguinha' e 'A Ferrovia' são as obras que mais gosto.” , pontou.

Representatividade das telas

"Tem que saber respeitar o tempo e a subjetividade do artista, para que as telas fiquem em harmonia e perfeição. Os melhores alunos são aqueles que gostam de desenhar e pintar. Se a pessoa não gosta, vou explicando, colocando uma tela lado a lado, porque eu quero que ela saia daquela tela como fiz", disse.

Conceitos de desenho como  ponto de fuga, perspectivas e linha do horizonte

"Muitas pessoas que procuram seu serviço fazem por amor à estética", ressalta a artista.  “Não adianta explicar conteúdo de sala de aula que a pessoa não vai entender. Os leigos devem explicar para se chegar a conceitos, praticar, esboçar, desenhar, até chegar à perfeição”, explicou.

Cores primárias, secundárias, terciárias e  quaternárias. Com esta paleta de cores usadas por todos os artistas. Os detalhes de cada coisa de suas pinturas são de livre escolha de cada cliente. 

“Você tem que sair daqui com a obra que é a sua cara. Duas vezes por semana, por três horas, aulas em grupo, para pessoas que gostam de expressar sua arte e ajudam a desenvolver o lado artístico e lúdico do sentido de arte”, explicou.

Com a alta da inflação e a alta do preço das tintas desde o início da pandemia, o valor - que antigamente variava até R$ 150, hoje em dia aumentou. Com aulas que variam entre R$ 100 à R$ 150, e um espaço confortável, são o que se fazem necessários para a execução das obras.

As aulas podem ser semanais e mensais, com pacotes abertos e fechados, mas a paciência é uma das virtudes que mais se precisa para observação das obras e concepção das esculturas e telas em óleo.

Num país, onde o empoderamento e valorização da mulher, em muitos casos, entram em conflito com o machismo, o racismo, em suas obras, Estela externaliza temas de mulheres africanas, indígenas, paisagens abstratas, mesclando o impressionismo e a arte abstrata como ´sui gêneris´ de sua temática religiosa.

“Uma vez, uma aluna pediu para desenhar um Cristo, com um exemplo que mostrei, a aluna achava que não ficava igual. Com minha explicação, e com as técnicas de pintura, foi observando as duas telas e a pintura saiu, todos os detalhes, quando terminou, a tela ficou perfeita”, disse.

Um presépio com uma família negra composta por oito pessoas. Esta obra temática foi um das mais representativas que vi na concepção estética das esculturas de Estela.

“Esta obra baseado numa família negra, de 2019, que naquela época encontrava peças menores, este ano maiores, e assim consegui achar um nicho de mercado.

Geralmente meus clientes escolhem o tipo de recorte das minhas obras, como tem oito peças, demora uma semana”, disse. A artista diz que já ouviu clientes pedir diferentes tons de pele em suas composições, não por ser racista, o que enxerga como diversidade cultural. 

Se permitir a fazer a estética e a concepção das obras, é o verbo que a artista mais acredita.

“É uma terapia, tanto que os médicos indicam para o tratamento de várias doenças. Tanto os pincéis quanto os tipos de tintas, os alunos têm que ter. Eles vão comprando com o tempo. Com as coisas que a própria pessoa tem em casa, às vezes até bijuterias quebradas dá para se fazer uma obra de arte incrível”, explicou.

Ao longo de sua carreira, a artista teve alguns pedidos curiosos. “Uma vez uma cliente pediu pra pintar no quadro as cinzas do pai dela, como num retrato, não consegui por questões religiosas”.

Tinta para gesso, de parede, o aluno pode aromatizar e fazer a própria tinta e deixar a arte fluir. “As clientes acabam criando uma relação de amizade, café da tarde. Meu ateliê funciona muita das vezes como um consultório, em quer deixa a pessoa trabalhar de acordo com as suas necessidades”, afirmou.

Sobre a relação da arte do bairro, com o envolvimento da população, a pessoa tem mais conhecimento e pergunta o quanto se cobra. “A pessoa vê o gasto do material, para colocar as obras mais valorizadas, e quem não tem muita relação com a arte deve respeitar o que se faz”, ressaltou.

Lembrando-se de Barack Obama (2009-2017), o 44º Presidente dos Estados Unidos, entender sobre questões raciais e inclusão do negro na sociedade ajudam a valorizar o seu trabalho.

“Antigamente, se você chegasse e falasse que tivéssemos um presidente negro, nos Estados Unidos - mesmo passando tudo isso - se pensa como lá atrás, a sociedade precisa evoluir em muitos sentidos”, disse.

Para ela uma palavra define a ascensão da mulher no mercado de trabalho. Igualdade. “Colocar a mulher negra no centro das discussões, é permitir que a arte fosse representada de maneira que abrange um todo. O Big Brother Brasil pode ser um exemplo, pela questão de cobrança de pessoas que pensam na negritude, sabem de questões, porém, acabaram se perdendo em seus discursos”, lembrou. 

Umbandista, ela acredita que o respeito é à base de tudo.

“Uma vez uma pastora chegou, pedindo para ungir o óleo, e disse que tinha uma cigana ao meu lado, questionei e pedi para aquela entidade me protegesse, e deixasse ela quieta, a pastora sorriu”, comentou.

Outra vertente de suas aulas é fazer da arte inclusiva uma forma de inclusão social. Com alguns alunos portadores de síndrome de Down, ela explicou que este papel funciona como terapia para desenvolvimento destas crianças. 

“Já tive uns cinco alunos com Down, tem que deixar eles ficarem a vontade e respeitar. São efêmeros, as vezes ficam no mundo deles, o que acaba ajudando como arte terapia”, afirmou.

De uma semana a dois meses, este é o tempo para a composição de uma obra. Ela explica que tudo depende do emocional e do estado para expressar o sentimento na obra.

Foto: Jordan De Sampa

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*Matéria Original Publicada em 11/03/2021 às 18h49. Reportagem: Jordan De Sampa . Penha News SP